Uma acolhedora e afetuosa comunidade de fé
"Indo, fazei discípulos de todas as nações, (...) ensinando-os...".

 

O título que encabeça este pequeno texto é parte das palavras de Cristo, contidas no Evangelho segundo Mateus e mais conhecidas como “A Grande Comissão”. Talvez você tenha estranhado a ausência do imperativo “ide”, presente na consagrada tradução de João Ferreira de Almeida. Pode até ter imaginado tratar-se de um erro de grafia. Contudo, a mudança foi intencional e reflete a tentativa de aproximar a tradução do texto grego original, em que o verbo “ir” não é um imperativo e, sim, um particípio. Não se trata de um preciosismo lingüístico. A aproximação do texto grego resgata a ênfase original da frase de Cristo, que não se encontra no ato de “ir”. O imperativo de Cristo não é “ide” e, sim, “discipulai” ou “fazei discípulos”. 

Esse deslocamento indevido da ênfase no discipulado para o envio, trouxe consigo algumas conseqüências práticas. Primeiro, ele provocou a priorização do investimento em missões transculturais e deixou, com honrosas exceções, a educação cristã em segundo plano. Além disso, essa inversão criou uma equivocada dicotomia entre “evangelização” e “ensino”. É fácil perceber essa distinção indevida na paixão que o tema “missões” desperta em nosso meio, em detrimento do ensino. Aliás, a Teologia, a Escola Dominical e os demais espaços de docência cristã são, infelizmente, alvos freqüentes de descaso, indiferença e até suspeita. Não obstante, nas palavras de Cristo, a evangelização começa com a iniciação na fé (“batizando-os...”) e continua no discipulado constante (“ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado...”).  A não compreensão dessa igualdade de valor entre a evangelização e o ensino tem como conseqüência uma comunidade cristã apaixonada por uma fé cujo conteúdo, em profundidade, desconhece. A verdade é que a maioria de nós não ultrapassa os rudimentos da fé e se contenta com tanto. O resultado é uma infinidade de denominações evangélicas e doutrinas cristãs que, lamentavelmente, ridicularizam a fé.

Atualmente, a própria compreensão do que seja “discipulado” demonstra esse fato. Para boa parte da Igreja Evangélica brasileira, discipulado é algo necessariamente distante da Escola Dominical, dos estudos bíblicos e outros espaços de reflexão cristã. Ignora-se que discípulo, no sentido bíblico, é o mesmo que estudante, aprendiz. Em alguns meios, discipulado é quase um “adestramento” em que o “discípulo” não é levado a refletir e amadurecer na fé. Antes, torna-se dependente tanto doutrinária quanto emocionalmente de seu “discipulador”. Este, por sua vez, através de um “evangeliquês” vazio e repetitivo, obriga seus discípulos e discípulas a decorarem versículos e chavões que os orientem a uma prática moralista e a um fundamentalismo religioso que beira ou, mesmo, ultrapassa os limites do fanatismo.

Quando nossa Igreja nos motiva a fazer discípulos e discípulas de Cristo, devemos recordar que, na tradição metodista e protestante em geral, o espaço privilegiado do discipulado cristão é a Escola Dominical. Ao lado desta, encontra-se o estudo bíblico-pastoral e outros momentos de partilha e aprofundamento que conduzem a comunidade cristã à reflexão e à maturidade da fé. Portanto, convém resgatar o velho lema: “Cada metodista, um/a aluno/a da Escola Dominical”.

Com “fraternura”,

Rev. Marcos R. Lima

 

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