Todos(as) nós, em algum momento da nossa vida, entramos num caminho que parece “sem volta”, ou pelo menos “que não nos leva adiante”. Essa experiência pode trazer à tona os dilemas que enfrentamos na nossa caminhada ou aqueles impasses da vida e caminhada, para os quais, pelo menos momentaneamente, não achamos respostas.
Geralmente, quando nos encontramos num dilema, ao compartilhar com alguém, dizemos: “estou num beco sem saída”. Ora, o “beco sem saída” é um caminho que dá “em frente de um muro”, em geral. Em última instância, é um caminho que não oferece a possibilidade de prosseguirmos. Neste caso, a probabilidade mais razoável é “retroceder”, voltar (convergir).
A parábola do “filho pródigo” nos oferece uma pista recriadora, por meio da terminologia. Na expressão “Vou voltar para a casa de meu pai...”, temos no grego o termo anastas, que quer dizer exatamente ascender, a mesma palavra grega usada para ressurreição [Anselm Grün]. Ascender, levantar, ressurgir, voltar, são vocábulos que indicam praticidade; são ações que devem fazer parte de nossa caminhada, independentemente de quais forem nossos dilemas...
O filho “chamado” pródigo, o qual é, em certo sentido, o arquétipo de um cristão que se desviou ou que passou a andar sem rumo (erroneamente), parece viver uma sina em que a fatalidade se impôs no cenário de sua existência. Na perspectiva de muitos, uma pessoa que toma um atalho como o fez o “filho pródigo”, ou que se desvia do caminho, precisará em algum momento retroceder (voltar). Porém, voltar não é tão fácil assim!
Entretanto, o que mais me chama a atenção nesta parábola é o fato que o filho não nasceu “pródigo” (dissoluto); ele é como qualquer um(a) de nós... Sua vida e os caminhos circunstanciais o levaram ao desvio, como encontramos descrito no livro dos Salmos – “Um abismo chama outro abismo e o fragor de suas corredeiras” – Sl 42.7. De algum modo, vejo que mesmo em situações como a do pródigo, a Graça de Deus nos assiste, e temos conhecido que esta Graça é maior que o nosso desvio, erro ou pecado (visto de uma forma mais tradicional).
Novas leituras e investigações acabaram me sugerindo rever esta passagem de Lucas 15.11ss. Assim, vejo o “pródigo” como qualquer um(a) que tivesse perdido a condução de sua vida e caminhada, de quem até tenta voltar pra casa, mas que não consegue regressar num primeiro momento, porque quase sempre temos a tendência de insistir, em continuar mesmo tendo um muro à nossa frente, mesmo diante de impasses que paralisam a nossa caminhada.
A parábola e seus pormenores descritivos nos mostra que os dilemas da vida estão sempre diante de nós, mesmo que não estejamos apercebidos deles – Voltar ou continuar, fazer ou não fazer, pedir perdão ou não pedir, reconciliar ou não reconciliar, caminhar ou desistir! Sempre estamos nos perguntando – E agora? O que é que eu faço?
Como o filho pródigo, em alguns momentos dos nossos caminhos, desejamos voltar, recuperar... E aí surge a indagação: Mas o que eu posso fazer para que seja diferente? O que preciso mudar? Tenho aprendido com isto que “o amor e a bondade de Deus se revelam numa forma que transtorna os esquemas e as expectativas humanas”... pois Deus nos acolhe de volta com Graça misericordiosa e não há nada que possamos fazer para alterar essa disposição divina.
Com o nosso abraço fraternal,
Rev. Gercymar Wellington Lima e Silva