Coração Aquecido: Mente Esclarecida!
No dia 24 de maio de 1738, o britânico John Wesley dirigiu-se a uma capela anglicana situada à rua Aldersgate, em Londres. Lá, durante o que chamaríamos de um estudo bíblico, o dirigente, em sua costumeira formalidade inglesa, lia o prefácio escrito por Martinho Lutero à carta do apóstolo Paulo aos Romanos. Wesley, clérigo e missionário anglicano, já era um cristão maduro que há muitos anos liderava o movimento de reforma eclesiástica e santidade conhecido popularmente como metodismo. Enquanto era feita a leitura mencionada, Wesley refletiu e, finalmente, convenceu-se de que o cristão pode ter a confiança, desde agora, de sua plena salvação em Cristo Jesus. Antes, ele acreditava que a certeza da salvação era uma pretensão ou, mesmo, uma arrogância descabida.
Para expressar essa profunda mudança de convicção teológica, Wesley lançou mão, como sempre o fazia, de uma expressão bíblica ao relatar o ocorrido em seu diário. Desta feita, ele citou a conhecida passagem evangélica acerca da caminhada para Emaús, contida no capítulo 24 do Evangelho segundo Lucas. Nela, quando os discípulos são convencidos por Jesus de que o Cristo ou Messias não viria como um guerreiro mas, sim, deveria ser morto e ressuscitar, expressam essa mudança de convicção com o seguinte hebraísmo: “Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” (Lc 24,32). A expressão idiomática judaica “coração aquecido” significa, tão somente, a mente confusa, cabeça quente ou, mesmo, nosso proverbial “miolos fervendo”. Refere-se à dificuldade de abrir mão de um paradigma e aceitar um novo modo de pensar. Wesley compreendeu-a bem e aplicou-a a sua própria mudança de pensamento sobre a certeza da salvação.
Não obstante, desde então algumas correntes teológicas interpretam equivocadamente essa experiência wesleyana como tendo sido, para uns, a conversão de John e, para outros, o seu batismo no Espírito Santo (particularmente para nós, latinos, que entendemos a palavra coração como o centro de arrebatadoras emoções). Nem uma coisa nem outra, visto que Wesley cresceu na prática da fé cristã e, desde os primórdios de seu ministério, demonstrou inúmeras vezes ser um homem pleno do Espírito de Deus.
Como vemos, a experiência do coração aquecido foi um marco de sua mente esclarecida pela Palavra de Deus na Carta de Paulo aos Romanos, à luz de um comentário bíblico luterano. Assim sendo, a mente renovada deveria ser uma característica fundamental do povo chamado metodista. Neste tempo de resgate de nossa identidade eclesiástica e herança metodista, esforcemo-nos para atender ao desafio paulino de gosto tão wesleyano: “...transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus!” (Rm 12,2b).
Com “fraternura”,
Rev. Marcos Rodrigues Lima