A presente reflexão baseia-se nos estudos do biblista luterano Joachim Jeremias. Segundo ele, a Ceia do Senhor foi uma dentre outras refeições que Jesus tomou com seus discípulos. Isto porque, para o hebreu, a refeição tomada em comum tem um significado profundo. Ela é algo mais do que uma simples reunião de amigos. Convidar alguém para a própria mesa é sinal de paz, de confiança, de fraternidade e de perdão.
O caráter particular da última ceia de Jesus está no fato dele usar a oração de abertura e de encerramento da refeição para assegurar, a cada um dos discípulos, a participação no Reino através de sua morte e ressurreição. Assentar-se à mesa com o Senhor é uma proclamação do início do tempo do perdão e da salvação. O novo povo de Deus, que se formava em torno de sua pessoa, constituía para Jesus uma grande família, que vinha ocupar o lugar daquelas que ele e os seus discípulos tinham deixado. Aceitando entre os seus comensais gente desprezada, Jesus proclamava do modo mais claro, e também mais escandaloso, que é a vontade de Deus acolher os pecadores. Sendo Jesus o Messias, para a multidão de seus discípulos cada refeição tomada em sua companhia era uma prefiguração, uma antecipação (mais exatamente um dom antecipado) da refeição escatológica.
A ordem de repetir (“Fazei isto em memória de mim”) significa que os discípulos deviam continuar a partir o pão em comum e manifestar constantemente, pela participação na mesma mesa, que eles eram uma comunidade messiânica. Observando a prática das refeições em comum, a comunidade não se contenta com receber o dom de Deus, mas assume também uma atitude ativa em sentido eminente: mediante cada uma destas reuniões ela proclama que a obra da salvação já está começada e pede a Deus que a complete.
Com “fraternura”,
Rev. Marcos R. Lima